Nuno Judice, Portugal, 1949.
Vive en Lisboa. Poeta, narrador, ensayista y profesor universitario.
Licenciado en Filología Románica por la Universidad de Lisboa. Obtiene el doctorado por la Universidad Nova de la cual es profesor asociado.
Tiene publicada obra poética, ensayo, ficciones, teatro, antologías y crítica literaria. Obra:
Poesía
- A Noção de Poema (1972)
- O Pavão Sonoro (1972)
- Crítica Doméstica dos Paralelepípedos (1973)
- As Inumeráveis Águas (1974)
- O Mecanismo Romântico da Fragmentação (1975)
- Nos Braços da Exígua Luz (1976)
- O Corte na Ênfase (1978)
- O Voo de Igitur num Copo de Dados (1981)
- A Partilha Dos Mitos (1982)
- Lira de Líquen – Prémio de Poesia do Pen Clube (1985)
- A Condescendência do Ser (1988)
- Enumeração de Sombras (1988)
- As Regras da Perspectiva – Prémio D. Dinis (1990)
- Uma Sequência de Outubro – Comissariado para a Europália (1991)
- Obra Poética 1972-1985 (1991)
- Um Canto na Espessura do Tempo (1992)
- Meditação sobre Ruínas – Prémio da APE (1995)
- O Movimento do Mundo (1996)
- Poemas em Voz Alta – com CD de poemas ditos por Natália Luiza (1996)
- A Fonte da Vida (1997)
- Raptos (1998)
- Teoria Geral do Sentimento (1999)
- Poesia Reunida 1967-2000 (2001)
- Pedro lembrando Inês (2002)
- Cartografia de Emoções (2002)
- O Estado dos Campos (2003)
- Geometria variável (2005)
- As coisas mais simples (2006)
- A Matéria do Poema (2008)
- O Breve Sentimento do Eterno (2008)
- Guia de Conceitos Básicos (2010)
Ficción
- Última Palavra: «Sim» (1977)
- Plâncton (1981)
- A Manta Religiosa (1982)
- O Tesouro da Rainha de Sabá – Conto Pós-Moderno (1984)
- Adágio (1984)
- A Roseira de Espinho (1994)
- A Mulher Escarlate, Brevíssima (1997)
- Vésperas de Sombra (1998)
- Por Todos os Séculos (1999)
- A Árvore dos Milagres (2000)
- A Ideia do Amor e Outros contos (2003)
- O anjo da tempestade (2004)
- O Enigma de Salomé (2007)
- Os Passos da Cruz (2009)
- Dois Diálogos entre um padre e um moribundo Coimbra, Angelus Novus, 2010.
- O Complexo de Sagitário, Lisboa, Dom Quixote, 2011.
Ensayo
- A Era de «Orpheu» (1986)
- O Espaço do Conto no Texto Medieval (1991)
- O Processo Poético (1992)
- Portugal, Língua e Cultura – Comissariado para a Exposição de Sevilha (1992)
- Voyage dans un Siècle de Littérature Portugaise (1993)
- Viagem por um século de literatura portuguesa (1997)
- As Máscaras do Poema (1998)
- B.I. do Capuchinho Vermelho (2003)
- A viagem das palavras: estudo sobre poesia (2005)
- A certidão das histórias (2006)
- O ABC da Crítica (2010)
Teatro
- Antero – Vila do Conde (1979)
- Flores de Estufa (1993)
- Teatro, Lisboa Artistas Unidos/Cotovia, (2005)
- O Peso das Razões, Lisboa, Artistas Unidos/Cotovia (2009)
Críticas y Antologías
- Novela Despropositada de Frei Simão António de Santa Catarina, o Torto de Belém (1977)
- Poesia de Guerra Junqueiro (1981)
- Sonetos de Antero de Quental (1992)
- Poesia Futurista Portuguesa, Faro 1916-1917 (1993)
- Cancioneiro de D. Dinis (1998)
- Infortúnios trágicos da Constante Florinda, de Gaspar Pires de Rebelo (2005)
A teia do tempo
A máquina de costura na montra
de copenhaga lembrou-me as tardes da infância,
quando as mulheres costuravam na sala interior, evitando
a luz para que o desejo de fugir não
interrompesse o trabalho que seguia o ritmo
rápida das suas mãos, tão brancas como a linha que por
elas passava. Não sei o que aconteceu à máquina
de costura, e as mulheres envelheceram como as paredes
em que a cal desbotou com os anos, deixando
à vista o reboco e as pedras. No entanto, a casa ainda se mantém
de pé, ao contrário de muitas dessas mulheres, que vi passar
à minha frente, com uma lentidão ritmada já não
pelo movimento da máquina de costura, mas pelo dobrar
dos sinos. Talvez algumas delas vestissem ainda a roupa que
tinham costurado para os dias de festa; e o lenço que lhes tapava o rosto
tivesse talvez saído da máquina que enferrujou no armazém onde
ficou esquecida, até este dia, em que vi a montra de copenhaga
e ouvi, por trás do vidro, os risos e os lamentos
das mulheres que espreito na sala obscura
desta memória de infância..
La tela del tiempo
La máquina de coser en el escaparate
de copenhague me recordó las tardes de la infancia,
cuando las mujeres cosían en la sala interior, evitando
la luz para que el deseo de huir no
interrumpiese el trabajo que seguía el ritmo
rápido de sus manos, tan blancas como el hilo que por
ellas pasaba. No sé qué fue de la máquina
de coser, y las mujeres envejecieron como las paredes
en que la cal se desconchó con los años, dejando
a la vista el revoque y las piedras. Mientras tanto, la casa aún se mantiene
en pie, al contrario de muchas de esas mujeres, que vi pasar
frente a mí, con una lentitud ritmada ya no
por el movimiento de la máquina de coser, sino por el doblar
de las campanas. Quizá algunas de ellas vistiesen todavía la ropa que
habían cosido para los días de fiesta; y el chal que les cubría el rostro
hubiese quizá salido de la máquina que se herrumbró en el almacén donde
quedó olvidada, hasta este día, en que vi el escaparate de copenhague
y oí, tras el vidrio, las risas y los lamentos
de las mujeres que atisbo en la sala oscura
de este recuerdo de infancia.