Lucas Amaral de Oliveira, Brasil, 1986.
Lucas Amaral de Oliveira, candidato a doctor en Sociología en la Universidad de São Paulo, desde el año 2014 desarrolla una investigación sobre la llamada “literatura marginal” en la periferia de São Paulo, Brasil. Su objetivo es comprender cómo determinados espacios de participación artística de la comunidad posibilitan la aparición de estos nuevos escritores en barrios pobres de la ciudad. En su Maestría en Sociología en la USP (2013) exploró la construcción de testimonio y memoria en la obra del intelectual italiano Primo Levi. Actualmente se desempeña como investigador visitante en el Departamento de Estudios Globales de la Universidad de Aarhus, Dinamarca.
Práticas culturais e territorialidade: o caso da literatura marginal no Brasil
A comunicação trata de dois fenômenos que vêm marcando importante movimentação cultural nas periferias de São Paulo, Brasil: a “literatura marginal” e os “saraus poéticos”. A proposta é analisar o impacto de experiências artísticas coletivas no labor literário de escritores oriundos de bairros com pouco acesso a equipamentos culturais e com déficit de políticas públicas voltados à cultura. A questão que norteia este trabalho, fruto de investigação doutoral, pode ser formulada da seguinte maneira: em que medida é possível atrelar criação literária e participação comunitária dentro desses dois fenômenos urbanos ainda em curso?
O movimento da literatura marginal surge e se consolida ao redor dos saraus periféricos, e tem como força propulsora, justamente, experiências culturais no espaço urbano a partir das quais algumas comunidades artísticas periféricas ressignificam a cidade através da criação literária e da atuação coletiva. Os saraus emergem no espaço público como reunião artística envolvendo moradores e visitantes de certo território que buscam expor seus textos autorais ao público, discutir literatura, expressar produções alheias ou performatizar criações estéticas. Os que se apresentam nesses espaços – em sua maioria bares, mas também Centros Educacionais, espaços culturais, praças, ocupações, teatros, escolas – têm liberdade de expressão artística, em que a declamação de poesias autorais é dominante.
No limite, pode-se notar dentro desses fenômenos a tentativa de construir uma leitura própria do que seja a cidade, o que pode alterar tanto o modo como os moradores das periferias são rotulados, como a maneira como pensam suas identidades coletivas e se relacionam com o espaço social mais amplo. Algo a ser demarcado, nesse sentido, é que a rubrica “marginal” e/ou “periférica” é reivindicada, desde o início, pelos próprios escritores que compõem o movimento. Logo, a auto atribuição “marginal-periférica” põe em pauta a posição ocupada pelo indivíduo morador das periferias no contexto urbano, o que se faz pela oposição a um “outro”, não periférico, e também a um “centro”. O argumento que defendo é de que a questão da territorialidade a que o indivíduo pertence é essencial para pensar a literatura marginal, mas ela pode também ser considerada homóloga à posição ocupada pelo escritor periférico no campo de produção cultural dominante do país.
Para driblar tal lógica, percebe-se a mobilização de uma série de expedientes e recursos desses agentes no sentido de se criar um espaço de contravenção e transgressão estéticas, um espaço heterotópico. Essas contravenções estéticas, espaços contra-hegemônicos de produção de enunciados, podem emergir tanto em declamações, discursos empreendidos, obras lançadas, entrevistas, manifestos, quanto no ativismo diário. Esse processo se dá mediante a transformação dos espaços urbanos marginais dos quais são oriundos em recursos para as suas formas narrativas, manuseando palavras, símbolos e códigos diversos, bem como artefatos materiais que lhes estão disponíveis, para produzir enunciados e comunicar-se com os outros, a fim de reivindicar espaços de fala e representação. A arte torna-se, nessa medida, uma práxis, uma experiência compartilhada e uma forma de viver e pensar a cidade.
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